APRENDER PARA ENSINAR A APRENDER
Só pode ensinar quem sabe aprender. O ensinar é mediação entre a aprendizagem do professor e a aprendizagem do aluno. Quem estuda tem condições de ensinar a estudar. Quem lê e escreve tem a possibilidade de ensinar a ler e a escrever. No ensino, o discurso sem referências, as informações mal assimiladas e expostas, as teorias fora do contexto social e histórico, os conhecimentos apresentados pela metade enquadram-se no conceito de mau ensino. Habilidades e competências sem os correspondentes conhecimentos (teóricos) que lhes deem sentido e as justifiquem são apenas operações mecânicas, repetitivas. Parafraseando Kant, é possível afirmar que conhecimento sem experiência é vazio e a experiência sem conhecimento é cega.
Todos podem aprender algo. Alguns aprendem melhor certas coisas, outros podem aprender outras. É necessário que cada um descubra sua maneira de aprender melhor e mais rapidamente. A escola deve ensinar, conforme a proposta de cada sociedade e época. Cabe a cada um aprender aquilo que transforma a sociedade, descobrir o novo, o que conduz a humanidade a alcançar seus fins e objetivos. Aprender a aprender é um slogan gasto. Parece dizer muito, mas não diz objetivamente nada. O que é necessário para aprender é dedicação e talvez algum talento. Também é necessário tempo e condições físicas, saber escutar e discernir para poder operar com o conhecimento.
O aluno passivo do passado hoje tende a ser ativo. Nesse sentido, a exposição deve dar lugar à argumentação, o saber responder deve começar com o saber perguntar. Em outros termos, essa pedagogia é a de Sócrates, aquele que sabe que não sabe e, por isso, inaugura a pergunta que possibilita as respostas. A pergunta significa acesso às informações. O ensinar assim conduzido é, ao mesmo tempo, metódico e psicológico. Abre o caminho e estimula a curiosidade.
Conhecer o aluno é a primeira condição do professor. Uma sala de aula, num sentido estrito e também lato, é multicultural. Há os que nela se sentem bem. Outros estão forçados, por diversas circunstâncias. Dirigir-se a cada um e a todos, ao mesmo tempo, exige criatividade de linguagem. Não se pode confundir competência com inteligência, verdade com consenso, vontade com admiração. Afinal, as operações básicas do conhecimento herdado dos gregos consistem em saber distinguir, aprender a definir e também em classificar.
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- O ensino tradicional consistiu em ouvir muito, ler pouco e escrever quase nada. Hoje, podemos, com o computador aberto, ler e escrever tanto quanto ouvir. Todas as informações são úteis, desde que transformadas em conhecimentos, e expressas numa linguagem adequada. Conhecimento e linguagem são faces da mesma moeda.
- Ensinar tem como objetivo aprender a realidade. A realidade hoje passa pelos conceitos de complexidade e emergência. E sua conquista não é apenas individual, mas esforço coletivo. Daí, aprender é adquirir o sentido de trabalho em equipe.
- As múltiplas teorias sobre a aprendizagem são úteis e sempre elucidam algum aspecto, mas elas todas juntas não explicam satisfatoriamente a aprendizagem. Se isso fosse possível, teríamos um conhecimento perfeito do ser humano. Por isso, esforço e humildade também ajudam a aprender.
Jayme Paviani
matéria publicada no caderno Almanaque, do jornal Pioneiro do dia 10/09 e no site: